A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores promoveu, na noite de 23 de Novembro, um Concerto Solidário, que veio a realizar-se no Auditório da Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico.
Esta a notícia simples que se tornou pública e veio nos convites individuais endereçados a diversas pessoas pela Presidente da Assembleia Legislativa.
Além de uma manifestação de arte foi também uma maneira simpática de motivar as pessoas para a solidariedade que deve existir, mormente no momento que passa, de crise económica e familiar. E, aliando a arte à entreajuda tudo se concretizou na assistência numerosa que ocupou o cadeiral do vasto salão. Esta uma nota simpática a que aqui deixo, muito embora se notasse, alem da solidariedade, a quase inexistência da sociabilidade, que poderia ter sido provocada com um intervalo de alguns minutos. Mas, para a elevação artística do evento, quase ninguém deu pela falta. Apenas este simples registo, à parte.
O concerto teve o grandioso mérito de revelar o potencial artístico que existe na ilha do Pico, apesar de outrora ser considerada como a mais “rústica” e atrasada do Arquipélago. Há muito que vem demonstrando o contrário. E isso revela-se nas filarmónicas centenárias, - quatro! – uma já com século e meio, nos gabinetes de leitura, nos jornais e nas bibliotecas, nas manifestações culturais, acontecimentos impares, como sejam os grupos folclóricos, as tunas e os espectáculos teatrais, enfim um avantajado número de eventos, como aquele que estamos a referir nesta singela nota.
O concerto demonstrou uma vez mais que, na Ilha do Pico, existem valores culturais que merecem ser melhor conhecidos e apreciados.
A Ronda das Nove, o Coro da Madalena, o Grupo Coral das Lajes do Pico, a Orquestra Juvenil da Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico deram uma vez mais a prova insofismável do gosto pela música e da elevação cultural das suas gentes. Depois temos os inspirados Poetas de verve consagrada, que para o concerto foram seleccionados e todos eles e só eles picoenses de raiz ou de dedicação: Manuel Tomás, Dias de Melo, Tomás da Rosa, “Iracema” ou Silvina de Sousa, Almeida Firmino, Sidónio Bettencourt, José Martins Garcia e Urbano Bettencourt, que só estes foram, criteriosamente, os escolhidos, muito embora ainda outros haja. E não deixo de referir os poetas populares, que nas folgas improvisavam suas “cantigas” a justificar atitudes: “Ainda agora aqui cheguei / mais cedo não pude vir / estive embalando os rapazes / que lá ficaram a dormir”.
Na arte musical temos compositores que nos deixaram as primícias de seus talentos. Lembro três dos falecidos: Manuel Cristiano de Simas, Manuel Xavier Soares, Manuel Emílio Porto. E quantos mais, uns conhecidos outros ignorados! Os originais e arranjos andam por aí, alguns deles bem aproveitados pelas corporações musicais. E a plêiade distinta dos vivos?
Ficam no olvido os jornalistas e os escritores, que alguns foram e são, até de renome internacional!
Há pouco desapareceu José Enes, filósofo, poeta, professor universitário. Uma figura de alto relevo nacional e internacional, o catedrático e intelectual de elevada competência e prestígio, que jamais poderá ser esquecido no mundo da Cultura de hoje e de sempre.
O Concerto Solidário promovido pela Assembleia Legislativa foi um acontecimento extraordinário que deve ficar na história picoense, de todas as gentes do Pico, aqueles que passaram a noite no Auditório da Escola Secundária de S. Roque ou aqueles outros que lá não estiveram, mesmo os ausentes da ilha, porque foi algo que a todos honrou e dignificou. Um concerto de cultura e de arte literária e musical.
Este o meu sentir e, por isso, aqui o registo com sinceridade e louvor. O Pico, a ilha toda, viveu uma noite de cultura e de arte inesquecíveis. Valeria a pena repetir.
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